Long time, no see!

É verdade, tenho andado desaparecida deste cantinho que me é tão querido. A vida ganhou outro ritmo e ainda não consegui enquadrar este meu hobby – que nasceu por passar imenso tempo sozinha – nesta nova realidade.

Agora quase nunca estou sozinha – e é muito melhor assim! 

Tenho imensos rascunhos e coisas que quero escrever por aqui mas hoje vim partilhar um bocadinho duma das minhas partes favoritas da maternidade: a viagem que tem sido a Amamentação.

Hoje marca-se o fim da Semana Mundial do Aleitamento Materno, que se celebra no início do mês de Agosto, também conhecido como Agosto Dourado. O grande objetivo destes dias é consciencializar para a importância inegável do aleitamento materno, informar e empoderar as mulheres para que se sintam capacitadas para o fazer. O objetivo é quebrar mitos e fazer desvanecer os tabus que estão entranhados na nossa sociedade. 

E sim, é uma semana importante porque é um tema relevante de saúde pública. A amamentação vai muito mais além da forma escolhida para nutrir um bebé. A questão da proteção imunológica do bebé está mais que comprovada e é um fator protector para a mãe de doenças como a Depressão Pós Parto e o Cancro da Mama. 

Pessoalmente, foi uma escolha que fiz ainda durante a gravidez. Sabia que queria ter a experiência de amamentar. Li muito sobre o assunto e quanto mais lia mais me assustava o facto de não conseguir fazê-lo, por perceber que não é assim tão fácil e linear para todas as mães. Optei por fazer um workshop da Filipa do Pinga Amor, uma enfermeira IbLC, que foi um verdadeiro “abre olhos” sobre o tema. A quantidade de informação relevante e importante que adquiri foram essenciais para, após o meu filho nascer, conseguir levar o meu objetivo avante.

Após um parto que não correu como desejado e um bebé que passou as primeiras horas de vida longe de mim na neonatologia, os desafios para estabelecer uma pega correcta apareceram todos. Inocentemente, aceitei tentar a utilização dos mamilos de silicone, o que agravou ainda mais o cenário – tinha um bebé que passava horas a mamar e continuava a perder peso. Não me deram alta após os dois dias por isso mesmo e começou toda uma cadeia de eventos que, infelizmente, poderiam culminar muito facilmente num desmame indesejado.

Ademais, ter a pressão constante de alguém a ver se já temos leite – quando o colostro é, muitas vezes, transparente e a subida de leite só se deu ao fim de 72h. Fui vista por um grupo de enfermeiras da Unicef que estavam a promover a amamentação mas que não conseguiram perceber o porquê do Rodrigo não estar a mamar direito sem o bico de silicone. 

Consequentemente, no meio de todo o panorama, aparece a bendita da fórmula mágica que tudo resolve. Ainda pedi para extrair leite e suplementar assim mas não conseguia obter a quantidade idiotica que a pediatra do hospital prescreveu. Cedi à pressão e ao fim de mais de 48h enfiada no hospital lá o dei leite adaptado – de seringa e copo aberto, porque me recusei a introduzir outro um bico de plástico, que iria diminuir ainda mais a minha já comprometida ideia de amamentação exclusiva. 

Ainda no hospital enviei um e-mail para a Filipa a pedir referências duma CAM que fosse a casa. Percebi que precisava de ajuda especializada. No Domingo, ao fim de quatro noites, lá vim para casa com uma receita de leite adaptado, que eu nunca levantei.

Sim, eu sabia que o meu bebé não estava a mamar o suficiente e não, não era falta de leite ou pelo leite ser fraco. Simplesmente havia um objecto (mamilo de silicone) que estava a comprometer a transferência de leite que lhe chegava – ele fazia mais esforço, cansava-se e adormecia sem estar saciado. Claro que depois chorava com fome. E voltávamos ao mesmo ciclo. 

E essa bola de neve pode fazer qualquer mãe com as hormonas do pós parto ao rubro entrar em desespero. Eu estive muito perto disso. De me questionar mil vezes se estava a fazer o correcto em insistir na maminha. De pensar que dar um biberão acabava com as dúvidas duma vez por todas. 

Na segundas-feira tivemos a primeira consulta na pediatra, onde foi reforçada a ideia que se o peso não aumentasse pelo linha esperada que teria de suplementar com LA. 

Ouvir profissionais de saúde com esta atitude de que o “leite materno pode não chegar” é ainda mais frustrante. E depois claro, ouvir os comentários de pessoas próximas que em nada ajudam : “quase todos os bebés precisam do biberão depois de mamar”; “a nossa pediatra da La a todos ainda na maternidade” , “eu nunca tive leite nenhum também podes não ter”. 

Juro que ainda hoje me questiono como não mandei toda a gente à merda. Sei que vontade não me faltou muitas vezes. Felizmente, tive apoio do meu marido e da minha mãe, que entenderam e respeitaram a minha vontade é obstinação. 

Foi na quarta-feira que recebemos a Inês, uma Consultora de Amamentação da clínica Amamentos em casa. E tudo começou a alinhar-se. Ouviu, observou e pasmem-se, que única coisa que ela me corrigiu foi a minha postura. Ao fim de 24h consegui que o bebé fizesse a pega correcta sem necessitar do mamilo de silicone. Regressamos na sexta-feira à pediatra ainda sem um aumento de peso significativo. Lembro-me como se fosse hoje de a ouvir dizer que se na segunda-feira ele não tivesse aumentado o peso para o do nascimento teríamos de introduzir o LA.

Acho que não diz mais nada além de ter o bebé na mama o fim de semana todo. E resultou. Segunda-feira voltámos lá e eu quase chorei ao ver os números na balança. Só me apetecia gritar “Eu sabia que o meu Leite não é fraco e que o meu filho só precisava de aprender a mamar direito”. 

E foi mesmo isso. Dou graças à Inês, a quem ainda mando mensagens com updates do Rodrigo, pela sua ajuda preciosa. Ao curso que fiz que me deu toda a informação necessária para confiar na biologia humana. Porque sim, somos todos mamíferos e se todos os bebés precisassem de suplementos químicos, já há muito estaríamos extintos. 

É realmente importante ajudar quem quer muito conseguir amamentar e não propor desistir ao primeiro contratempo. Claro que, em nenhum ponto do processo, senti dores horríveis nem estive desconfortável ao fazê-lo. Quem assim se sente deve ser respeitada caso escolha terminar o processo. 

Todas as escolhas são válidas. 

Pessoalmente, orgulho-me da minha. Amamentei em exclusivo até aos 6 meses, altura que iniciámos a alimentação complementar e mantive a maminha em livre demanda. Com o regresso ao trabalho, aos 9 meses do Rodrigo ,passei a fazer extração e a enviar o leite para a creche. Quando estamos em casa ele mama quando quer quando estamos juntos. 

Hoje, ao fim de 15 meses, esse continua a ser um dos meus momentos favoritos do dia.