Passei o dia a pensar no que te escrever, Papá.
Escrevi, apaguei e voltei a fazê-lo até que decidi não ligar mais às palavras bonitas. Afinal nada há de bonito, no dia de hoje, se tu não estás presente para o celebrar comigo. E foi isso que, durante todo o dia, me atormentou.
Quando foi a última vez que celebrámos este dia juntos?
Dei voltas e mais voltas, revirei as gavetas todas da minha memória e, mesmo assim, não consigo lembrar-me. A memória é algo engraçado, sem graça nenhuma: prega-nos valentes partidas quando menos estamos á espera. Mas desta, eu não estava. Será que o tempo vai distorcer cada vez mais a tua presença, não passando ela, um dia, de uma memória longínqua? Vai ser tudo isso que me resta de ti, além das fotografias empoeiradas? E se ela, esta minha memória, um dia me falha, como me está a falhar hoje? O que me irá restar aí, além de um (ainda maior) vazio no meu peito?
Não sei responder a nada disto. Apenas sei que dava o mundo e arredores por poder oferecer-te mais uma moldura feita de molas pintadas, ou um cinzeiro de latas de Coca-Cola, e dizer que foste, és e serás sempre o melhor Pai do universo.